O futuro da economia é verde
As autarquias têm uma palavra a dizer sobre as empresas e indústrias que investem no seu concelho. E, com as alterações climáticas em jogo, a sustentabilidade deixou de ser uma escolha.
A descarbonização do setor industrial e empresarial é essencial para a economia portuguesa se tornar neutra em carbono. Ainda assim, mais de 50% das empresas em Portugal ainda estão numa fase embrionária de sustentabilidade ambiental, revela um estudo feito pelo BCSD Portugal – Conselho Empresarial para o Desenvolvimento.
Apesar de existir a consciência da necessidade de mudança, estes dados mostram que o processo de as empresas se tornarem mais sustentáveis está a revelar-se mais lento do que as alterações climáticas exigem. “O nosso objetivo inicial de limitar o aumento da temperatura até 1,5°C acima de níveis pré-industriais será rompido em menos de uma década”, afirma Rodrigo Tavares, professor catedrático convidado na Nova School of Business and Economics (NOVA SBE). “Tudo indica que iremos falhar”.
Para cumprir as metas do Acordo de Paris, as empresas terão de reduzir a sua pegada ecológica, ainda que seja “um pro-cesso longo e transformacional”, explica Rodrigo Tavares. Não apenas porque o cli¬ma assim o exige, mas porque a resistência à mudança lhes pode custar caro. “O não alinhamento com estes princípios resultará em maior exposição a riscos, aumento de vulnerabilidade e degradação reputacional”, defende Joana Pinto, engenheira ambiental da C-MORE.
Se ser mais sustentável já é uma necessidade para as empresas, como o podem fazer? Na opinião do especialista da NOVA SBE, podem começar por fazer uma “avaliação de diagnóstico”, ou seja, perceber qual é a sua maturidade no que à sustentabilidade diz respeito para depois decidir onde é necessário intervir. Mas será que incorporar práticas sustentáveis no atual tecido empresarial é suficiente para atingirmos as atuais metas climáticas?
Os negócios do futuro serão verdes
A par do número cada vez maior de empresas que se estão a tornar mais ver¬des, há outras que estão a nascer com a preocupação ambiental, a par da inovação e investigação, no centro da sua atividade. É o caso da CarBio-Solo, start-up criada em 2021 com a missão de sequestrar carbono do solo.
Apesar de bastante recente, “foi uma lufada de ar fresco” para Sérgio Prazeres, que abraçou o projeto em 2022 com a sua própria empresa, a The Use Concept. A essa decisão seguiu-se a coordenação de um projeto europeu inspirado na ideia da CarBio-Solo, um grande ponto de viragem para uma microempresa nacional que viu na adaptação e mitigação das alterações climáticas uma oportunidade.
“Há todo um contexto global em que nos podemos inserir e já conseguimos fazer a diferença porque, tendo uma marca registada e um projeto europeu em curso, já são dois bons cartões-de-visita”, diz Sérgio Prazeres.
Mas não é só na área do sequestro de carbono onde abundam novas oportunidades de negócios sustentáveis. Do fabrico de veículos elétricos à produção de energia renovável, muitas são as indústrias verdes que se estão a desenvolver. O objetivo? Criar uma economia alinhada com o que o ambiente e as pessoas precisam, sem deixar o lucro para trás.
“O estudo mais recente que li, da Oxford Economics e publicado no início de 2023, indicava que a economia verde pode atingir um valor de 10,3 mil milhões de dólares até 2050 ou 5% do PIB global projetado”, refere o especialista da NOVA SBE. Contudo, pede cautela na interpretação destes números, já que “as indústrias verdes mais preponderantes em 2050 ainda não foram inventadas ou democratizadas, como a fusão nuclear”.
Os aceleradores de mudança
Posto isto, impõe-se a questão: o que se ganha em ter empresas cada vez mais sustentáveis? “Um tecido empresarial mais preparado e resiliente” e um “ecossistema menos pressionado do ponto de vista da extração e poluição” e consequentes “benefícios ambientais, económicos e sociais, nomeadamente ao nível da qualidade de vida e prevenção de riscos”, afirma Joana Pinto. Tudo vantagens que serão sentidas ao nível local, se as autarquias apostarem na sustentabilidade do tecido empresarial do seu concelho.
Assim, podem começar por “assegurar que a entrada de novas empresas no seu campo comercial depende da adoção de práticas de sustentabilidade. Os municípios são clientes importantes e podem influenciar as dinâmicas existentes no mercado local”, defende o especialista da NOVA SBE.
Mas além de barrar negócios que não respeitam essas práticas, as autarquias também devem fazer esforços para atrair investimento verde. E quem o diz é o artigo 36.º da Lei de Bases do Clima: a administração local deve “preferencialmente, financiar projetos, contratar serviços ou concessionar serviços públicos que cumpram os princípios da taxonomia sobre atividades ambientalmente sustentáveis da União Europeia”.
Além do que está na lei, os municípios podem apostar na “implementação de sis¬temas em que o pagamento de impostos seja um reflexo das práticas ambientais das empresas”, afirma a engenheira ambiental. Outra estratégia será investir em fatores de atração que existem dentro do concelho. E se esses forem comunidades de energia renovável – associações que produzem a eletricidade que consomem através de fontes renováveis – tanto melhor.
Se um município tiver uma comunidade de energia renovável, explica Joana Pinto, “vai ser um aspeto positivo e que incentiva as empresas a fixarem-se aí e até a contribuir para essa comunidade. Nessa medida, acho que é uma boa forma de atrair as empresas”.